A Sociedade Brasileira de Paleontologia repudia totalmente a autorização para intervenção em qualquer tipo de caverna no Brasil, algo recentemente permitido através do Decreto 10.935/2022. Tal atitude pode levar à destruição irreversível de inúmeras cavernas de grande importância científica em nosso país. Ressaltamos o inestimável valor das cavernas para a Paleontologia Brasileira, visto que muitas são detentoras de prolífico conteúdo fossilífero, o qual constitui patrimônio de nossa nação.
Muitas dessas cavidades naturais são alguns dos principais sítios paleontológicos brasileiros e, desde o século XIX, têm revelado uma ampla diversidade de formas animais que existiram no passado do nosso planeta. A partir de pesquisas paleontológicas realizadas nelas, Peter Lund – naturalista dinamarquês – deu luz à Paleontologia, Arqueologia e Espeleologia nas Américas. Diversas espécies pretéritas, a exemplo do famoso tigre-dentes-de-sabre (Smilodon populator), passaram a ser mundialmente conhecidas a partir de pesquisas paleontológicas em cavernas do Brasil. É importante ressaltar ainda a importância dessas cavidades para o refinamento do conhecimento a respeito da Paleontologia humana, em especial das migrações do ser humano pré-histórico por todas as Américas.
Até hoje, essas cavernas têm se mostrado feições ímpares para a Paleontologia brasileira, pois inúmeros são os fósseis que vêm sendo coletados do interior dessas feições geomorfológicas em diversos estados brasileiros por paleontólogos e paleontólogas de instituições de ensino e pesquisa brasileiras. Incontáveis são os fósseis que estão preservados em cavernas esperando para que cientistas brasileiros os tragam à luz. Por isso, qualquer ação que configure risco ao patrimônio paleontológico brasileiro será considerada abominável.
Embora o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski tenha suspendido ontem (24/01/2022) parte do decreto 10.935/2022 – o que se mostra como um alento – estamos cientes de que tal ação é passível de recurso. Nesse sentido, ressaltamos a importância do monitoramento das ações futuras relacionadas ao tema, por parte tanto da sociedade em geral, quanto dos órgãos relacionados e sociedades científicas.
Atenciosamente,
Dr. Hermínio Ismael de Araújo Júnior
Presidente da Sociedade Brasileira de Paleontologia
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